Chegou a hora de começar o seu projeto de pesquisa. Sempre queremos que ele demore o mínimo possível, de pouco trabalho, tenha muita qualidade, enfim, seja FÁCIL, RÁPIDO E PRODUTIVO. Mas como realizar esta atividade de modo produtivo? O que usar para facilitar e poupar tempo? Nesta hora podemos recorrer a programas ou soluções tecnológicas computacionais/web, para nos auxiliar em todas as atividades envolvidas com a construção do seu projeto de pesquisa.
Infelizmente, há poucos artigos que focam em informar quais ferramentas são essenciais para conhecer antes de começar seu projeto de pesquisa. E estes poucos, ainda são tendenciosos pois, na sua maioria, são blogs de desenvolvedores de outras soluções, com o objetivo de divulgar suas próprias soluções. Ou seja, não fazem uma real sugestão das melhores soluções tecnológicas.
Passei “perrengues” com meus projetos de pesquisa nesta parte. A falta de textos, vídeos e tutoriais para orientar complicou a execução meu projeto de pesquisa na graduação. Já no mestrado, graças à colaboração de colegas e professores, entrei em contato com alguns programas, softwares e sites. Outros, que julgo fundamentais para conhecer antes de começar qualquer projeto de pesquisa, acabei descobrindo sozinho, navegando por aqui e por ali.
Bom, é óbvio que esta lista não é sobre os melhores, nem busquei qualificar ou avaliar cada uma das sugestões abaixo. Todas as sugestões têm origem única na minha experiência nos últimos anos. E ainda os utilizo nas tarefas relacionadas aos meus projetos de pesquisa. Espero que também lhes sejam úteis, como são para mim.
BASES DE DADOS BIBLIOGRÁFICOS
Vamos começar pelos locais que podemos encontrar o item mais importante de qualquer projeto de pesquisa: artigos científicos. Saber onde encontrar as melhores referências para seu projeto de pesquisa é fundamental. E não adianta perguntar ao Google (mesmo o Scholar), pois existem outras soluções mais fáceis, úteis e de maior qualidade para este objetivo.
Nesta parte, é claro, encontrar excelentes repositórios de artigos científicos, com boas soluções para realizar as buscas, facilita a tarefa. E podemos dizer que no Brasil, por incrível que pareça, temos uma excelente ferramenta desenvolvida pelo governo. Ela aumenta a produtividade e qualidade da pesquisa nacional, e tem acesso gratuito (desde que seja por meio de uma instituição de ensino participante).
Nós brasileiros sabemos que as palavras “governo”, “funciona” e “produtividade” quase sempre não são encontradas no mesmo lugar. Mas nesta elas são encontradas. Ficou curioso para saber qual é esta solução? Estou falando do PORTAL DE PERIÓDICOS DA CAPES, minha primeira sugestão.
01 – Portal de Periódicos da Capes
Este portal é uma iniciativa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A história de sua fundação começa com a iniciativa do MEC (Ministério da Educação) ao criar um programa para bibliotecas de Instituições de Ensino Superior, embrião do atual Portal de Periódicos.
Mas então, o que é tão fantástico neste portal para ajudar com seu projeto de pesquisa? Bom, se você tiver acesso a ele – via instituições de ensino participantes – você poderá acessar, de forma gratuita, as principais e mais importantes bases de publicações da ciência mundial.
É através desta solução tecnológica que pesquisadores nacionais e professores universitários tem acesso as mais importantes revistas científicas, repositórios de publicações e outras relacionadas. E é através do Portal que temos acesso as duas principais bases de referências científicas, as quais são apresentadas a seguir.
02 – Scopus
A base Scopus é o maior repositório de referências científicas (artigos científicos, livros e publicações de congressos) multiárea presente online. Através de suas ferramentas de busca, temos acesso a cerca de 5000 publicadores (bases que tem de fato as publicações), com cerca de 71 milhões de arquivos e 23700 periódicos (peer-reviewed journals). É muita informação, muito conhecimento guardado num único lugar, ao acesso de um clique.
Sua base de dados é tão grande (e importante), que o Scientific Journal Rank, usa sua base para calcular os valores do impacto de cada periódico, criando o seu ranking – aliás, vale a pena dar uma olhada em quais são os melhores da sua área.
Portanto, seu você quer encontrar uma boa quantidade de referências científicas para seu trabalho, é fundamental utilizar a base Scopus . E assim como ela, existe outra, um pouco menor, mas tão importante quanto.
03 – Web of Science (antiga ISI)
A base da Web of Science também serve para o cálculo de alguns indicadores de impacto de periódicos e artigos. Apesar de ter menos publicações em sua base, ela compensa com algumas ferramentas de análise nativas na plataforma.
Sua importância é por possuir exclusividade sobre alguns periódicos de alto impacto, onde só podem ser localizados no Web of Science – descobri isto com um artigo chave no meu mestrado, único que não estava na Scopus. Tais artigos, dependendo da sua área de pesquisa, podem ser as principais pesquisas publicadas. E obviamente, devem ser lidas antes de começar seu projeto de pesquisa.
Entretanto, estas duas bases não são publicadoras de pesquisas. Elas são indexadoras. O que é isso? Bem, elas, de forma geral, armazenam apenas os dados bibliográficos das publicações (autores, título, resumo, referências, palavras-chaves, etc.) e não seu texto completo. Uma vez que selecione uma determinada pesquisa, elas vão lhe direcionar ao publicador daquele artigo. E um dos maiores publicadores de periódicos é o Science Direct.
04 – Science Direct
A principal característica (e motivo de colocar a Science Direct como essencial) é possuir uma das maiores quantidades de artigos científicos de acesso aberto (open access). São mais de 250 mil! Aproveitando o assunto, deixo como sugestão extra a SOAJ – scientific open access journals, uma base bem menor de artigos, mas com um excelente propósito: concentrar as referências de publicações “open access”.
Lembro que durante a revisão de literatura no mestrado, cerca de 30-40% dos artigos que baixava, tinham como origem esta base. E em sua maioria eram de acesso aberto. Isso reduz e muito os custos de pesquisa, já que obter alguns bons artigos de outros publicadores geralmente envolve pagar entre $ 15-25. Imagine precisar de 20 artigos. Você gastaria 400 DÓLARES só para ler as pesquisas da área.
Você pode acessar da sua casa, sem precisar passar por portais (PORTAL DE PERIÓDICOS DA CAPES) assinantes ou comprar assinatura avulsa para ter acesso – como é com a maioria absoluta das bases, inclusive Scopus e Web of Science. Portanto, considero esta a principal base para obter o texto completo das suas pesquisas, principalmente se você não tiver acesso através de uma instituição participante do PORTAL DE PERIÓDICOS DA CAPES.
Mas estas bases são de alcance internacional, com uma grande concentração de publicações de pesquisas americanas, europeias e asiáticas. Ao conduzir pesquisas mais próximas a nossa região (América Latina), ou se seu tema de pesquisa necessita de referências locais, aconselho acessar a base a seguir.
05 – Scielo
A base Scielo – que completa 20 anos de operação em 2018 – na verdade não é uma base. Ela é um modelo para a publicação eletrônica cooperativa de periódicos científicos na internet. Conta com apoio do CNPq desde 2002, e agrega em sua base a maior coleção de artigos científicos publicados na América Latina, região fora do eixo principal das publicações mundiais.
Também é uma base com uma forte política de acesso aberto as publicações (open access, assim como a Science Direct), o que reduz o custo e facilita o desenvolvimento da ciência da América Latina. Sua ferramenta de busca é similar as outras bases, o que facilita o aprendizado e seu efetivo uso.
Portanto, se seu projeto de pesquisa leva em consideração o contexto da América Latina, ou mesmo que não leve, você deseja conhecer como está a publicação de pesquisas do seu tema aqui no Brasil e países vizinhos, é nela que deverá buscar referências para isto.
CONCLUSÃO SOBRE AS BASES
Pela pouca experiência que tive com estas bases, posso dizer em termos gerais, que a base Scopus tende a quantidade (aumentar sua base) e facilidade de acesso (publicações com acesso gratuito). Já a Web of Science tende a qualidade (periódicos e artigos de grande relevância) e em disponibilizar ferramentas extras para análises básicas e avançadas das publicações e suas citações.
A Science Direct provavelmente será a sua maior fonte de textos completos, então é aconselhável aprender a buscar artigos diretamente nela. Enquanto que a base Scielo será a sua fonte de pesquisas locais (América Latina).
Estas particularidades de cada base reforçam a necessidade (em minha opinião), de serem feitas coletas de referências em todas, para uma visão mais completa das publicações do tema do seu projeto de pesquisa. Talvez isto seja muito trabalhoso, mas fazer este esforço com certeza vai significar um projeto de pesquisa de maior qualidade, com informações mais abrangentes, garantindo assim alguns pontos para você, já de início.
Ok. Agora que você conhece onde encontrar bons artigos científicos, que outras soluções podem lhe auxiliar nas etapas seguintes? Em seguida lhes apresento as soluções para gerenciamento dos dados coletados.
06 – Zotero
Uma vez coletados os arquivos com os dados bibliográficos de dezenas de referências, de várias bases, você vai encontrar o seu primeiro problema. Cada uma das bases usa um formato de arquivo de exportação diferente, com informações diferentes em seus arquivos. Como integrar esta diversidade de formatos e informações em um apenas? Usando o Zotero como importador e exportador destes arquivos.
O Zotero foi desenvolvido de forma independente. É uma solução que aceita os mais diversos formatos de arquivos de referências – tais como .ris, .csv, .ciw, .txt, entre outros. Ele organiza em uma tabela única, que pode ser exportada nos formatos mais utilizados. Sua interface é muito simples, intuitiva (aprender usando) e leve, o que permite ser instalada em qualquer computador.
Descobrir este programa foi fundamental – soube por um artigo do Wikipédia que compara dezenas de softwares de gerenciamento de referências. Afinal, ele é uma excelente alternativa ao caríssimo EndNote, realizando basicamente as mesmas funções. O que ele não faz, eu consigo exportar em formato “.csv”, que pode ser aberto em planilhas eletrônicas (excel, por exemplo). Lá executo diversas fórmulas para analisar estes dados como quiser, inclusive criando gráficos dos dados e outras informações estatísticas.
A única função que ele não executa, que é obter e analisar o texto completo das publicações, eu utilizo uma outra solução desenvolvida pela Elsevier (obrigado por ainda a manter grátis, meu bolso agradece) apresentada a seguir.
07 – Mendeley
Meu principal auxilio nos projetos de pesquisa que faço, principalmente devido as ferramentas de realce de trechos (destacar texto) e incluir notas coloridas. Assim posso fazer uma análise dos textos das pesquisas, realizando anotações na própria publicação – estas funções são bem parecidas com as do Adobe Acrobat Reader, usado para arquivos “.pdf”.
Outra grande vantagem dele é ser sua “biblioteca virtual”. Inclusive armazena seus arquivos em servidor na nuvem, o que permite acessar os mesmos arquivos e anotações em vários dispositivos. Ele realiza a sincronização automática, assim você não perde os dados em caso de extravio do dispositivo (computador, celular, tablet).
Ele também tem uma função de exportar arquivo de referências, ou você pode instalar um plugin dele no Microsoft Office Word. Com qualquer uma destas opções, você tem direto no Word as referências para usar como citações em seu texto. E o Word no fim pode criar e organizar automaticamente a seção de referências do seu projeto – uma das maiores dores que tive ao escrever o TCC na graduação.
Agora uma surpresa. Uma das funções mais recentes do Mendeley, tem como base os artigos armazenados na sua conta. Você vai receber sugestões de pesquisas relacionadas aos seus assuntos de interesse, diretamente no e-mail. Só clicar e baixar o texto completo.
Ele usa a base Scopus (afinal, é do mesmo dono, a Elsevier) e um algoritmo para escolher as sugestões mais adequadas de acordo com o que você tem armazenado no Mendeley. Assim você nem precisa buscar novas pesquisas. Fantástico!
Como o Mendeley também gerencia os arquivos no seu computador, decidi inserir uma camada extra de segurança. Além de armazenar na minha conta do aplicativo, uso o Google Drive para armazenar na nuvem os arquivos das pesquisas – artigos, resenhas, resumos, versões do projeto, etc. Portanto, vou lhe sugerir que use uma das ferramentas de armazenamento na nuvem (Cloud Drives).
08 – Cloud Drives
Além da famosa solução da Google, sugiro outras duas boas opções com contas gratuitas e com grande espaço disponível. Destaco o One Drive, da Microsoft, e o Dropbox. Qualquer um dos três que escolha, é excelente. Todos tem um bom nível de segurança para evitar perdas dos arquivos armazenados, ou acesso não autorizado. Também são fáceis de instalar, configurar e fazer back-up.
Decidi não falar de cada um, mas falar do porquê sugiro usar um, qualquer um deles. Pense que por algum motivo seu computador queime, ou precise ser formatado. Pense em todas as horas de trabalho escrevendo, analisando artigos, criando fichas de leitura. Tudo perdido em segundos. Este já um bom motivo para você adotar uma solução de armazenamento na nuvem.
Outra é ter acesso de qualquer lugar, principalmente se você esquecer seu computador, por exemplo. Já pensou no dia de apresentar seu projeto, ter problemas com seu notebook e pendrive onde salvou a apresentação? Se usa uma das soluções que sugeri, basta acessar sua conta na internet e baixar o arquivo. Apresentação salva!
Acredito que estas soluções são suficientes para quando começar a acumular referências e textos científicos para seu projeto. Elas cumprem seu papel com o gerenciamento e armazenamento destes arquivos.
Bom, estes 8 já servem para você sair da inércia e ter um bom suporte tecnológico. No próximo artigo, vou lhe sugerir as outras 8 soluções tecnológicas que escolhi, desde vez com foco na produtividade, organização e planejamento de suas atividades.
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